É bom que Deus é bom. Como o Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo; Deus não é bom de três maneiras diferentes. Mas a própria existência da bondade é coexistente com Deus trino. Bondade só é encontrada neste mundo de forma derivada. Aquele, entretanto, que é puramente bom e que dá a verdadeira definição de bom é Deus.
Portanto devemos nos lembrar que a nossa tarefa nesta discussão não é olhar para atos na realidade que nos encontramos e usá-los para dizer que Deus é bom desta ou daquela maneira. Somos instruídos a dar “graças ao Senhor porque Ele é bom” (Salmo 118.1; 136.1). Gratidão não se dá pela imediata recompensa de Deus para conosco. Gratidão, ao contrário é convocada aqui justamente porque a arquitetura da realidade encontra a base de firmação na bondade de Deus. Graças damos normalmente quando algo nos é ocorrido. Entretanto perceba que o chamado aqui não tem a ver imediatamente com a redenção do indivíduo. Espera-se que após dizer que Deus é bom, o autor fale algo como: “pois me resgatou.” Mas a exegese desta bondade encontra sua justificativa no fato que o amor de Deus “dura para sempre.”
Aos leitores mais atentos tais afirmações, entretanto, não são tão disjuntas. Pelo contrário, parece que o salmista está nos chamando a atenção para o relacionamento que existe entre o amor de Deus e a bondade dele. Diferentemente das criaturas, Deus é tudo que nele há. Tal afirmação parece um tanto complexa, mas é uma afirmação sobre o que chamamos na teologia de simplicidade divina. Tudo que há em Deus é Deus. Ou seja, Deus não é 50% amor e 50% bondade. Amor e bondade são o próprio Deus. Deus não é dividido entre seu amor e sua bondade. Aquilo que encontramos didaticamente mostrado para nós nas escrituras é na verdade uma forma de enxergar o que Deus é deste lado da eternidade. Então Salmo 118 e 136 não são sobre uma teologia praxis imediata, mas sobre contemplação de Deus. Somente depois de contemplar Deus que é amor para sempre e desta forma é bom, que o Salmista começa a andar pelas ações de Deus no tempo a favor de Israel.
Tal contemplação já foi fruto de reflexão anterior (veja meu post anterior aqui). Vale ressaltar então que é exatamente porque bondade é encontrada sem derivação em Deus que sabemos que ele é bom. Em termos filosóficos: a essência de Deus é coexistente com sua existência. Seus atributos não são possuídos por um agente que pode ser separado dessas propriedades. Os atributos são Deus em quem Ele é em si mesmo. Além disso Deus não precisaria de outrem para que ele dispensasse sua bondade.
Em Pai, Filho e Espírito Santo; bondade flui sem precisar que exista uma criatura. E é exatamente porque Deus é trino que podemos dizer que essa essência não é separada ou dividida entre cada uma das pessoas da trindade. Afirmar que existe partição da bondade de Deus significa que um membro da santa trindade não é como o outro membro em termos essenciais. Se de tal forma fosse, não poderíamos adorar o único Deus, pois teríamos três deuses e não um Deus em três pessoas.
No próximo post vamos comentar se mesmo assim ainda é possível falar sobre bondade atribuída especificamente a um membro da trindade ou se o nome de bom Deus deve ser atribuído genericamente a Deus.
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