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Existe uma espécie perigosa de orgulho que geralmente passa despercebida e também não é confrontada na vida cristã, e no entanto, ela mata. Ela envenena os relacionamentos e nos impede de chegar ao arrependimento. Pelo fato de astutamente nos levar a justificar nossas transgressões apelando para a forma como fomos injustiçados, os tentáculos do orgulho mantêm o coração preso, ao mesmo tempo que aparentamos ser humildes e necessitados. Estou falando da autocomiseração um pecado que está por toda parte atualmente.
A autocomiseração começa com a comiseração—a virtude de mostrar solidariedade e buscar compreender. Quando a comiseração se volta para dentro, ela diminui a compaixão pelos outros e levanta empecilhos à abnegação. Eugene Peterson, em Earth and Altar [Terra e Altar], se questionava se nós havíamos nos tornamos “o povo com maior autocomiseração em toda a história da humanidade”.
“Sentir pena de si mesmo se transformou em uma forma de arte. As queixas e choramingos que as gerações mais sábias ridicularizavam com sátiras recebem o status de mais vendidos entre nós”.
A autocomiseração tem um papel nas teorias de conspiração atuais tanto na esquerda quanto na direita. Quer apareça na forma de vitimização pessoal ou ressentimento, o reflexo é de buscar teorias bizarras nas quais não precisamos reconhecer nossos erros e assumir responsabilidade por nossos atos. O mundo está nos fraudando, portanto culpar os outros e revidar contra qualquer forma de desrespeito é justificável.
Como a autocomiseração se relaciona com o orgulho? É o outro lado da moeda da vanglória. John Piper comparou a vanglória e a autocomiseração em seu livro Em Busca de Deus:
“A vanglória é a resposta do orgulho ao sucesso.
A autocomiseração é a resposta do orgulho ao sofrimento.
A vanglória diz: “Mereço ser admirado pois alcancei muito”.
A autocomiseração diz: “Mereço ser admirado pois sofri tanto”.
A vanglória é a voz do orgulho no coração dos fortes.
A autocomiseração é a voz do orgulho no coração dos fracos.
A vanglória aparenta autossuficiência.
A autocomiseração aparenta altruísmo.”
Geralmente, a vanglória é evidente, mas a autocomiseração é mais sutil. Ela surge de um ego ferido. A pessoa com autocomiseração frequentemente aparenta lutar contra uma autoestima baixa e a sentimentos de vergonha. Na verdade, quem fica se remoendo em autocomiseração está infeliz porque seu valor está passando despercebido. “Não recebi aquilo que mereço. Mereço mais. Ninguém me trata de acordo com o meu valor”. Aqui está o Piper de novo:
“A autocomiseração é um pecado perigoso, enganoso e que endurece o coração. É um amortecedor espiritual que estrangula a fé, suga a esperança, mata a alegria, sufoca o amor, alimenta a raiva e rouba qualquer desejo de servir os outros. É um pecado que alimenta outros, porque nos motiva a nos confortarmos a nós mesmos com todas as formas de indulgência pecaminosa, tal como fofocas, difamação, gula, abuso de substâncias, pornografia e o consumo frenético de entretenimento, só para dar alguns exemplos.”
Os líderes podem ter uma propensão especial à autocomiseração. Quando criticados (justa ou injustamente), nossa reação não é buscar justificação em Deus, mas nos voltamos para dentro e ficamos reclamando que nosso valor que não foi reconhecido, que nossa bondade que não foi valorizada. Com que facilidade nos recolhemos às câmaras de eco do coração e repetimos para nós mesmos as transgressões cometidas contra nós! Então, ao nos deixamos levar por outros pecados, sucumbimos ao mau humor ou não sentimos mais compaixão pelos outros. Culpamos os outros pela nossa falta de crescimento espiritual.
A autocomiseração serve de lenha para outros incêndios pecaminosos, particularmente a raiva, como demonstrado até por fontes seculares. O relatório de uma pesquisa relaciona a autocomiseração a sentimentos tanto de solidão quanto de raiva.
“Pessoas que sentem autocomiseração geralmente esperam mais de seu ambiente do que o ambiente está disposto a oferecer. Relacionamentos pessoais são vistos como instáveis e caracterizados por exigências demasiadas por parte da pessoa que sente autocomiseração e que acha que seu ambiente não está disposto a oferecer empatia, conforto e o apoio que ele ou ela exige. Consequentemente, a pessoa que sente autocomiseração está sempre frustrada.”
Esta frustração é egoísta. Tal como o paralítico do tanque de Betesda, a quem Jesus perguntou: “Queres ser curado?” (João 5); fazemos uma lista de motivos pelos quais a cura é impossível. Pessoas imersas em autocomiseração podem desejar de verdade ser curados, mas existe uma hesitação em ter as feridas tratadas, por causa do conforto de justificação própria que recebem quando focam nas transgressões dos outros.
A autocomiseração diz, “Tenho razão pois fui maltratado” e então vai em frente justificando muitos outros comportamentos egoístas.
Resistir ao pecado sedutor da autocomiseração não significa que devemos suprimir nossas mágoas, deixar de lamentar injustiças reais nem de buscar a cura por feridas reais e persistentes. Em vez disso, resistir à autocomiseração significa resistir ao desejo de se render a padrões de justificação própria. O pecado da autocomiseração nos leva a encontrar validação no nosso sofrimento, assim como o pecado da vanglória nos leva a encontrar validação no nosso sucesso.
Resistir à autocomiseração exige que clamemos a Deus em humildade, como Davi fez no Salmo 13, expondo nossas reclamações ao mesmo tempo em que confiamos na Sua “graça”, decidindo nos “regozijar” na Sua salvação e lembrando de quantas vezes Ele “me tem feito muito bem.”
A autocomiseração volta o olhar para si mesmo e suas feridas. Lutar contra a autocomiseração exige olhar para o Jesus crucificado. Pelas Suas pisaduras fomos sarados. Nos vangloriamos na cruz que crucifica o nosso orgulho. “Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo”, escreveu o apóstolo Paulo (2Co 1.5). Da mesma forma, Pedro nos deu este mandamento: “alegrai-vos na medida em que sois co-participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando” (1Pe 4.13).
Primeiro, necessitamos olhar para Cristo, depois para as pessoas ao nosso redor. Deixamos de procurar pessoas que nutram nossa atitude de autocomiseração. Começamos a buscar oportunidades para emergir do pântano de autocomiseração para amar e servir o próximo com compaixão. Buscamos ser bênçãos.
Scotty Smith crê que a generosidade baseada no evangelho é o melhor antídoto para a autocomiseração. A única forma de combater a “toxicidade e veneno da autocomiseração, que encolhe a alma e apodrece o coração”, é olhar para fora de si. Ao invés de alimentar mágoas, guardando rancor por causa do orgulho ferido, é necessário se rebaixar para cuidar das necessidades dos outros e servir com alegria.
Para o bem da igreja e do mundo, vamos parar de ser seduzidos por este pecado astuto e sedutor que rouba a nossa alegria. Deixe para trás a festa celebrando sua autocomiseração e entre na festa do evangelho, que Deus quer que você organize para os outros.
Traduzido por Mariana Ciocca Alves Passos.
Trevin Wax: é diretor de publicação do The Gospel Project na LifeWay Christian Resources, marido de Corina, pai de Timothy, Julia e David. Você pode segui-lo no Twitter. Clique aqui para a biografia completa de Trevin.
Written by: GospelOne
today15 de março, 2022 2759 2
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